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Escola fantasma de R$ 4,7 milhões escancara impacto da Quadro Negro na educação

Nova sede da E.E. Francisco Pires Machado atenderia a mais de mil alunos, mas as obras estão paradas

Escola fantasma de R$ 4,7 milhões escancara impacto da Quadro Negro na educação

Era para ser a nova sede da Escola Estadual Francisco Pires Machado, mas a construção de 3,6 mil metros quadrados se resume a dois galpões inacabados de concreto e tijolos, no bairro Cará-Cará, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Abandonado desde agosto de 2015, o prédio até recebe alunos – não para aulas ou atividades extracurriculares, mas para “fazer folia”. Todos os dias, crianças que deveriam estudar ali usam o espaço apenas para brincadeiras, como “pega-pega” e “polícia e ladrão”, mesmo entre entulhos, pedaços de madeira, pregos enferrujados e mato alto.

O abandono escancara o impacto da corrupção em recursos da educação. No mês passado, a obra entrou na mira da Operação Quadro Negro, que investiga um esquema de desvios de recursos públicos destinados à construções e reformas de escolas estaduais. Orçada em R$ 4,7 milhões e executada pela Valor Construtora, a nova sede da E.E. Francisco Pires Machado teria dois pavimentos, por onde se estenderiam 16 salas de aula, além de laboratórios de informática e ciências, e que serviriam a mais de mil estudantes.

Por ora, no entanto, a construção serve de palco para as incursões de crianças, como Rafael* e seus amigos. Eles parecem não se importar com os escombros, vergalhões expostos ou com as rampas sem corrimões. Pelo contrário: com mochila nas costas, saltam de janelas e correm de chinelo sobre montes de cacos de tijolos. Além dos meninos, o prédio é ocupado por uma pequena matilha de cachorros, provavelmente sem dono.

Enquanto o novo prédio não passa de uma construção abandonada, a escola Francisco Pires Machado funciona hoje naquela mesma quadra, mas em estrutura bem mais modesta: seus 500 alunos dividem espaço com os estudantes de uma escola municipal. São apenas seis salas de aula e um laboratório de informática com seis computadores, além de uma sala de professores e uma pequena biblioteca.

Apesar de se tratar de um colégio estadual, a obra foi gerenciada pela prefeitura de Ponta Grossa, por meio de um convênio entre a Secretaria de Estado da Educação (Seed) e a o município, firmado em 2011, na gestão do então prefeito Pedro Wosgrau Filho (PSDB). A construção chegou a ter mais de 20 operários trabalhando, mas está parada há mais de dois anos.

Na instauração do inquérito civil que investiga a obra, o Gepatria – grupo do MP-PR de proteção ao patrimônio público – destaca que uma das solicitações para que o convênio saísse do papel partiu do deputado Plauto Miró (DEM), investigado na Quadro Negro e apontado como beneficiário de R$ 600 mil em propinas que teriam sido pagas pela Valor.

“O Plauto não saía da obra. Vinha todo mês aqui. Depois que parou, nunca mais apareceu”, disse o pedreiro Lourival Vieira da Silva. Por meio de sua assessoria, Plauto Miró confirmou que a construção da escola era um pedido dele e que ele costumava fiscalizar o andamento dos trabalhos, como costuma fazer com outras obras públicas.

A Quadro Negro

Deflagrada em julho de 2015, a Quadro Negro começou a partir de investigação deflagrada pela Polícia Civil. Posteriormente, com o aprofundamento das apurações e com indícios de participação de servidores do governo estadual, o caso passou a ser investigado por dois grupos ligados ao MP-PR: o Gepatria e o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Até então, os trabalhos se concentraram nos contratos da Secretaria de Estado da Educação com a Valor Construtora. De acordo com as investigações, mais de R$ 20 milhões foram desviados das obras de escolas estaduais, por meio do esquema. O dono da construtora, Eduardo Lopes de Souza, fechou colaboração premiada, em que apontou que o dinheiro abastecia a campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB).

O delator destacou que o então superintendente de Educação, Maurício Fanini, esperava arrecadar R$ 32 milhões com os desvios relacionados à Valor. Além disso, Lopes de Souza apontou envolvimento da cúpula do governo estadual no esquema: o chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni (PSDB) e do deputados Ademar Traiano (PSDB) e Plauto Miró (DEM). Todos negam as acusações e desqualificam a palavra do delator.

“De fato, a construção da Escola Estadual Francisco Pires Machado é um pedido do deputado Plauto Miró. Assim como outros tantos que culminaram em grandes benefícios para a comunidade princesina. O principal, entre muitos, está o que culminou na implantação do curso de medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa e no Hospital Regional”, consta da nota.

Fonte: Gazeta do Povo