Esta semana, o ex-agente de Michael Schumacher, Willi Weber, quebrou o silêncio em torno do heptacampeão mundial da Fórmula 1 com um apelo ao mesmo tempo contundente e angustiado para que a família do piloto conte ao mundo o que se passa com ele, três anos depois do acidente numa pista de esqui na França, em dezembro de 2013.
"Lutei durante muito tempo, porque a família de Schumacher não revela toda a verdade. Mas não escutam meu conselho", disse Weber em entrevista à revista alemã Bunte. "Acredito que é hora de falar toda a verdade para os fãs", acrescentou o empresário que trabalhou com o piloto alemão até 2012.
?? real que o estado de saúde de Schumacher é um segredo de polichinelo. ?? difícil acreditar que, dadas a violência do impacto na cabeça e as condições em que foi retirado da pista naquele dia fatídico, seu quadro tenha mostrado evolução animadora. No entanto, a falta de informações por tanto tempo acaba por gerar especulações as mais diversas sobre as razões de tanto mistério. Além do que, em pelo menos duas ocasiões, terem surgido notícias da morte do alemão ??? desmentidas, aliás, pela própria ausência de fatos e não por declarações da família.
Que fique claro, antes de tudo, que a privacidade sobre o estado de qualquer paciente, ainda que seja uma figura pública, um ícone universal como Schumacher, é um direito irrefutável da família. No entanto, a montagem de toda uma operação para por em prática a mais ampla sonegação de informação das últimas décadas, como vem exigindo Corinna, a mulher do piloto, extrapola os limites da privacidade, passa a ser tão somente um desrespeito com o público, os fãs em particular, com os colegas das pistas e até com os amigos, igualmente alijados do processo. Weber, por exemplo, é proibido de visitá-lo desde o início.
Houve um tempo ??? e falamos de três ou quatro décadas atrás - em que restringir a informação ou mesmo manipulá-la não era uma prática esporádica, eventual, mas sim o lugar comum, por vezes até uma política de governos e de organizações empresariais. A notícia da morte de um líder podia demorar dias, semanas para ser divulgada. A doença de um artista, de um político era escondida até o limite, como se a divulgação, e não a moléstia, fosse uma ameaça à vida.
Hoje, seja pela democratização das fontes e dos canais de informação, seja pela explosão das redes sociais ou pelo desenvolvimento de tecnologias capazes de vigiar a vida dos cidadãos, das câmeras aos satélites, esconder uma notícia, obviamente não é impossível, mas o grau de dificuldade para fazê-lo, certamente é muito maior. Todos nós, algumas dezenas de vezes todos os dias, somos filmados no elevador do prédio, na esquina de casa, no hall do escritório. Assaltos, acidentes de carro, quedas de avião, na vida cotidiana, ou um cotovelada que o juiz não viu, o xingamento de um jogador a outro, no esporte, dificilmente escapam do registro de imagens.
Na Olimpíada do Rio, vale lembrar, a farsa do assalto dos nadadores americanos durou poucos dias. As câmeras de TV foram decisivas para que a mentira fosse descoberta e Ryan Lochte e seus amigos, desmoralizados. Assim como foram as imagens que garantiram o bronze de Poliana Okamoto na maratona aquática, ao flagrarem a francesa Aurelie Muller dando um safanão numa adversária. O que mais impressiona, nos dois casos, é a ingenuidade desses atletas ao acharem que poderiam enganar o mundo, diante dos olhos do mundo.
E isso, tanto quanto o estado do piloto, é o que chama a atenção no caso de Schumacher. Sua mulher tem conseguido, sim, entra ano, sai ano, se não enganar, pelo menos embromar todo mundo. Quantos médicos, enfermeiros, auxiliares ou apenas curiosos nos tempos de internação, não passaram pelo leito de Schumacher. E nada, nenhuma informação se ouve ou ouviu deles. Imagens roubadas, então, nem pensar.
De onde vem tanta cumplicidade é outro mistério desse caso. Solidariedade, respeito à ética, respeito humanitário ou, simplesmente, intimidação? Muito provavelmente só quando o campeão se for há de se entender o que rolou por aqui.
Fonte: Lance