Um velho amigo de Heltton Matheus Cardoso Rodrigues, que jogou a Copa São Paulo com a identidade de Brendon Matheus Araújo Lima dos Santos - como revelou o ESPN.com.br -, não hesita em defendê-lo. Segundo Leandro Pereira, que morou com o jovem no Rio de Janeiro, o zagueiro do Paulista tinha "um coração bom" e, se fez o que fez, foi pensando em ajudar a família.
"Assim como Emerson Sheik, que ganhou quase tudo aqui no Brasil, precisou fazer o ???gato' para jogar, a mesma coisa aconteceu com ele, por ele ser pobre, por ele querer ajudar a família, por ter um coração bom", disse ao amigo, que conviveu com Heltton por aproximadamente um ano e meio em São Gonçalo, no Rio, em entrevista ao ESPN.com.br.
Leandro e Heltton compartilhavam, além da amizade, o sonho de se tornarem jogadores de futebol. O primeiro atuou em clubes na Bahia e chegou ao Rio de Janeiro para defender o Bonsucesso, na mesma época em que o colega iniciava no São Gonçalo. Naquela época, o zagueiro ainda utilizava os documentos originais, e não o de Brendon Matheus.
"Desde o começo da carreira, todos sabiam que ia dar certo no futebol, tanto pela altura, quanto pela força que demonstra dentro de campo. ?? um jogador de grupo. Quando chega, vira xodó de todo mundo. Tem preocupação com todos. Estou muito triste que aconteceu isso com ele", seguiu Leandro, que hoje está com 23 anos e sem clube.
Leandro diz não ter ficado sabendo da adulteração de documentos do companheiro, mas logo o reconheceu quando o viu em ação na Copa São Paulo. O amigo acredita que Heltton possa ter sido convencido por alguém que a chance de disputar uma competição com tamanha visibilidade poderia transformar sua carreira.
"Alguém pode ter falado com ele que seria uma oportunidade de ouro. Todo mundo sabe que a Copa São Paulo é uma oportunidade de ouro. Pela qualidade que ele tem, dentro de campo, imediatamente aceitou. Sabia da oportunidade, sabia que tinha vários jogadores de qualidade que ele poderia marcar e chamar a atenção", opinou.
Para virar Brendon Matheus, Heltton deixou o São Gonçalo a caminho do Santa Cruz, do Rio Grande do Norte, onde apareceu pela primeira vez com a identidade de um jovem que, na verdade, está preso no Rio, acusado de tráfico de drogas e roubo. Depois disso, o jogador se transferiu para o Nacional, de São Paulo, e posteriormente ao Paulista.
Já Leandro, depois do Bonsucesso, chegou a defender o América-SP e tentar a sorte na Europa, na Turquia, com a camisa do Tavsanli Linyitspor. No Rio, ele conheceu os familiares de Heltton e acredita que, por saberem do sonho do filho, eles devem o ter apoiado na decisão de arriscar adulterar documentos para se tornar jogador.
"O sonho acabou virando pesadelo com esse acontecido. Sem dúvida ele é um cara de família, todo mundo estava torcendo para ele e todo mundo ia apoiar ele. Como gato ou não gato, a família ia apoiar. Acho que a maioria ia apoiar, porque é um sonho. Ele é um menino, continua sendo um garoto de 22 anos. Independente disso, tem uma carreira pela frente."
Não foram poucas as vezes na conversa com a reportagem que Leandro pediu que Heltton receba uma nova oportunidade. "Neste momento difícil, está faltando solidariedade com ele, de outros jogadores. Não sei se o grupo (do Paulista) está se sentido triste, mas todo mundo sabia que ele era um cara bom, chegou, virou titular... Não foi pela idade", disse.
"Se virem outras equipes, vários outros jogadores (que adulteraram idade) foram descobertos e continuam jogando. Ele merece outra chance. Todos deveriam se juntar, está faltando solidariedade no futebol. Se for entrevistar o elenco do Paulista, vão ver que ele é muito querido por todos, bom garoto, merece uma chance de se explicar", seguiu.
A descoberta da adulteração de documentos de Heltton custou a eliminação do Paulista da Copa São Paulo. Agora, a final do torneio será disputada entre Corinthians e Batatais. Já o zagueiro, desde que sua história foi revelada no domingo, está desaparecido, não tendo se reapresentado ao clube de Jundiaí na manhã da última segunda, como previsto.
Fonte: ESPN