106,5 FM
Rádio Costa Oeste
- A
Embrapa Agroenergia (DF) identificou espécies de microalgas que podem ser
cultivadas em resíduos líquidos de processamento em agroindústrias, gerando
matéria-prima renovável para biocombustíveis, rações, cosméticos vários
outros produtos. A pesquisa, que durou três anos, também teve como resultado a
descoberta de espécies na biodiversidade brasileira.
Os
efluentes utilizados nos estudos foram a vinhaça, formada na produção de açúcar
e etanol de cana, e o pome (palm oil mill effluent), gerado no processamento de
dendê, aproveitado na fertirrigação das plantações. Utilizá-los, contudo, como
meio para produzir microalgas, deverá agregar valor às cadeias produtivas da
cana e do dendê, produzindo mais biomassa e óleo para obter energia e
bioprodutos.
Produtividade
As
microalgas são organismos unicelulares e microscópicos que vivem em meios
aquáticos e têm característica curiosa: não são plantas, mas são capazes de
realizar fotossíntese e de se desenvolver utilizando luz do sol e gás
carbônico. Se reproduzem muito rapidamente, proporcionando grande quantidade de
óleo e de biomassa. A produtividade pode ser de dez a 100 vezes maior do que de
cultivos agrícolas tradicionais. Isso chamou a atenção de setores que
necessitam de grandes quantidades de matéria-prima, como biocombustíveis.
??leos
produzidos por algumas espécies quase sempre contêm compostos muito valiosos
como, por exemplo, ??mega 3 e carotenoides. Por isso, elas também encontram
espaço em indústrias que atendem nichos de mercado e pagam mais caro por
matérias-primas com propriedades raras. ?? o caso dos cosméticos e dos
suplementos alimentares.
Já
existem, pelo menos, quatro empresas no Brasil produzindo microalgas: duas no
Nordeste, com foco em nutrição humana e animal, e outras duas no interior de
São Paulo, atendendo indústrias de cosméticos e também de rações, além de
projetos para tratamento de efluentes. Mas, há ainda muito a avançar no
conhecimento e no desenvolvimento de tecnologias para impulsionar o setor. A
redução do custo de produção é uma das principais preocupações, principalmente
quando se quer alcançar mercados que necessitam de grandes volumes e de preços
baixos, como é o caso dos biocombustíveis.
O
primeiro trabalho dos cientistas visava encontrar espécies capazes de crescer
na vinhaça, em ambientes industriais e biomas brasileiros (Amazônia, Pantanal e
Cerrado). Duas espécies foram identificadas que podem ser cultivadas nesse
efluente, com bom rendimento ??? uma delas ainda não está sequer descrita na
literatura. A análise dos componentes da biomassa dessas duas microalgas indica
maior concentração de carboidratos e de proteínas do que de lipídeos e
carotenoides, que as tornam mais adequadas para a produção de etanol do que de biodiesel,
quando o assunto é biocombustíveis. Podem ser utilizadas, ainda, em rações.
As
duas espécies selecionadas realizam fotossíntese, mas também utilizam a matéria
orgânica da vinhaça para crescer. Não chegam a reduzir significativamente a
carga orgânica e, por isso, não podem ser utilizadas isoladamente para
tratamento do efluente. Mas possibilita que a vinhaça seja usada para
fertirrigação de canaviais após a retirada das microalgas.
Commodities
agrícolas
Equipe
da Embrapa e instituições parceiras estão empenhadas em construir ferramentas
que permitam modificação genética das espécies selecionadas para crescimento na
vinhaça e no Pome, com o objetivo de potencializar o rendimento. O investimento
na engenharia genética tem motivo: toda a produção de commodities agrícolas
está baseada em espécies que passaram por domesticação e melhoramento genético.
Além disso, estudo sobre microalgas do governo dos Estados Unidos mostrou que o
uso de linhagens modificadas geneticamente chega a reduzir em 85% o custo de produção.
O
desafio para chegar a novas linhagens é grande. Qualquer programa de engenharia
genética precisa primeiramente de conhecimento sobre a espécie. No caso das
microalgas, a base está em construção. Basta comparar: o primeiro genoma
completo de bactéria foi apresentado em 1995, o humano foi concluído em 2003,
mas só em 2012 foi sequenciado o DNA de uma microalga com potencial para
produção de biocombustíveis.
Na
Embrapa e na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), além das microalgas, os
cientistas estão explorando a genética das cianobactérias, conhecidas como
algas azuis. São organismos também unicelulares, microscópicos e capazes de
realizar fotossíntese, porém mais simples. Luis Fernando Marins, professor da
FURG, compara os genomas delas. Enquanto o de uma das cianobactérias com que
ele está trabalhando tem 2,6 milhões de pares de bases, o de uma microalga
chega a 120 milhões, ou seja, é 60 vezes maior. Além disso, os meios de cultivo
para as cianobactérias são geralmente mais baratos e elas têm capacidade de
secretar substâncias, o que facilita processos de obtenção dos produtos de
interesse.
Fonte: Alex Moreno/Assessoria