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Após 40 anos, vítima da Ditadura luta na justiça para reconquistar trabalho

  • 03/03/2017
  • Foto(s): Arquivo Pessoal
Após 40 anos, vítima da Ditadura luta na justiça para reconquistar trabalho
A Justiça do Trabalho de Foz do Iguaçu reintegrou, após quarenta anos, ao quadro de funcionários da Itaipu Binacional a funcionária Sonia Castanheira perseguida politicamente durante a ditadura militar. Sonia aguardou por quatro décadas para ter seu nome limpo e voltar ao seu posto de trabalho. 

A funcionária é tradutora. Somente em 2012, após a assinatura da lei da Anistia é que ela teve acesso aos documentos sigilosos de órgãos de investigação, perseguição e repressão do Exército Brasileiro. Este acesso proporcionou o resgate do passado obscuro a qual cada vítima guardava fatos e abusos apenas na memória. Só na abertura desta ???caixa preta???, Sonia finalmente pode saber os detalhes de sua demissão. As relações sociais de seu marido, o argentino naturalizado paraguaio, Dario Anibal Galindo, levaram agentes da Operação Condor a investiga-lo intensamente. Segundo os militares, Dario era contrabandista de armas e tinha envolvimento com grupos terroristas brasileiros. 

Embora as citações ???contrabando de armas??? e envolvimentos com ???grupos terroristas??? não oferecesse provas materiais, apenas registros de palavras de militares, Dario, que também era funcionário da Itaipu, foi demitido da Usina, e, logo em seguida, Sonia foi posta na vala comum do SNI e banida do quadro de funcionários pelo mesmo motivo. 

O trabalho para reintegrar a funcionária ao quadro da empresa foi intenso. ???Conseguimos provar que Sonia foi injustiçada, provamos que ela sempre foi uma pessoa de conduta exemplar. Provamos mais, provamos que Sonia foi vítima de uma perseguição política cruel dos coronéis da Ditadura Militar???, disse o advogado Daniel Godoy. 

A decisão, proferida em 27 de janeiro deste ano, pela juíza de direito ??rica Yumi Okimura, é emblemática do ponto de vista jurídico e democrático, segundo Daniel Godoy, é a primeira vez na história do direito trabalhista que uma vítima de ditadura consegue o direito de ser reintegrada a seu posto de trabalho. 

A juíza ainda deu dez dias para que a sua decisão fosse cumprida, mas a Itaipu recorreu da decisão. Para Sonia Castanheira, que hoje passa por um tratamento de saúde em Assunção, no Paraguai, onde está internada desde a semana passada, esta primeira decisão é o resgate de uma vida interrompida. ???Soube pelos documentos que vi somente depois da minha anistia. Não os conhecia. Serviram para armar um quebra cabeça pois eu desconhecia a razão de toda a violência que sofremos. Foi duro viver, foi duro assistir o medo dos demais de relacionar-se conosco, foi duro sentir-me como leprosa e discriminada, marginada por "quase" todos e finalmente foi duro armar a história total porque os delatores eram meus "amigos"???, desabafou Sonia, que aguarda o julgamento do recurso para retomar seu posto em Itaipu. ???Quero isso, quero voltar ao meu trabalho, de onde foi tirada, arrancada sem ao menos saber os motivos. Aliás, nem meus chefes e diretores sabiam???. 

Atualmente Sônia mora na Cidade de Leste, no Paraguai, e com o ânimo de uma jovem de 30 anos, a idade que tinha quando foi contratada, espera sua readmissão. ????? só o que eu quero, voltar a trabalhar no lugar que tanto me orgulhei de fazer parte, que tanto amei trabalhar???, disse. 

Na justiça a luta pela moral e pelo direito de voltar a trabalhar 

Com o acesso aos documentos sobre sua perseguição Sonia deu início a uma série de processos, de indenizações e direitos que lhe foram tirados.Ela surpreendeu a todos quando fez um pedido específico a seu advogado, Daniel Godoy Junior, o de ser reintegrada ao quadro de funcionários da Itaipu. Ela também pediu que tivesse o direito de falar. ???Não quero que se termine esse processo sem que escutem a minha voz e algumas palavras minhas, nunca fui ouvida. Ao iniciar ação contra a Itaipu, pretendi que se faça justiça, pois paguei por um crime que não cometi. Fui condenada durante a ditadura brasileira e a feroz ditadura paraguaia, sem ter uma só prova contra mim. Fui uma das primeiras funcionárias da Itaipu Binacional. Amava a empresa e empreendimento gigantesco. Me sentia orgulhosa de pertencer ao seu quadro. Sempre fui dedicada, leal e correta. Tenho quase 71 anos. Quero ter meus últimos anos sabendo que se fez o quer era justo. Quarenta anos passaram, mas eu não esqueci. Eu, minha família e meus filhos pagamos um preço muito alto por uma falsa acusação. Peço-lhe apenas isso. Justiça. Obrigada???, concluiu. 

Fonte: Alex Moreno/Danielle Peplov

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