O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito contra o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Blairo Borges Maggi (PP).
Ele é suspeito de ser o destinatário de um pagamento de R$ 12 milhões durante sua campanha à reeleição em 2006, de acordo com delatores da Odebrecht.
Em nota, o ministro nega ter recebido doações da Odebrecht e diz que não tem e nem teve relação com a empresa e seus dirigentes.
O pedido de investigação determinado pelo ministro Edson Fachin foi tomado após análise de pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
A Procuradoria fez a solicitação com base nas delações de ex-executivos da Odebrecht. Fachin autorizou inquéritos para investigar 9 ministros, 29 senadores, 42 deputados e 3 governadores, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo".
O ministro Blairo Maggi foi citado pelos delatores João Antônio Pacífico Ferreira e Pedro Augusto Carneiro Leão Neto. De acordo com o relato, Blairo teria recebido R$ 12 milhões durante campanha em 2006 ao governo do estado do Mato Grosso.
Os pagamentos foram registrados no Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht. Segundo os delatores, o ministro tinha o apelido de "Caldo" dentro do sistema de propinas da empresa.
Créditos no MS e no MT
Os delatores relatam que o Grupo Odebrecht detinha créditos em relação aos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, decorrentes de obras públicas. Entretanto, não conseguiam receber porque os valores não eram honrados por causa da falta de verba nos estados.
Os delatores citam que um "agente público estadual" do Mato Grosso teria solicitado pagamento de "vantagem indevida" para ajudar no recebimento dos créditos. De acordo com os relatores, os valores recebidos seriam repassados, a pretexto de contribuição eleitoral, em favor da campanha de reeleição de Maggi.
Pagamento a Zeca do PT
Na mesma delação, os ex-executivos da Odebrecht afirmaram que José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, recebeu R$ 400 mil em 2006 durante sua campanha ao governo do Mato Grosso do Sul. No sistema de propinas da Odebrecht, Zeca era identificado como "Pescador".
Zeca do PT negou recebimento e apontou que ha um "erro enorme" na delação, já que à época ele não poderia e não disputou eleição naquele ano.
Na delação, os ex-executivos dizem que os R$ 400 mil foram pagos em favor de "agentes públicos", sendo que Zeca do PT teria indicado um arrecadador da campanha. O relato aponta que, com a desistência de Zeca do PT, os valores teriam sido repassados ao senador Delcídio do Amaral, que foi o candidato do partido ao governo estadual. De acordo com o ofício que autoriza a abertura de investigação, os delatores "esmiuçaram" reuniões entre Delcídio e representantes da empresa.
Eles citam que, assim como no caso de Mato Grosso, a empresa também tínha créditos pendentes a receber por obras em MS, e destacavam que havia interesse da empresa na atuação dos agentes públicos para acelerar os trabalhos de Comissão Especial para acelerar os trabalhos do grupo que tentava angariar os repasses da União para o pagamento da dívida com a empresa.
Na autorização de abertura de inquérito contra o Blairo Maggi e Zeca do PT, Fachin não cita providências contra Delcídio. Em etapa anterior da operação, Delcídio do Amaral teve homologada pelo ministro Teori Zavascki sua delação premiada.
Ministro nega recebimento
Veja íntegra da nota de Blairo Maggi abaixo:
"Lamento que meu nome tenha sido incluído numa lista de pessoas citadas em delações da Construtora Odebrecht, sem que eu tivesse qualquer possibilidade de acesso ao conteúdo para me defender. Me causa grande constrangimento ter minha honra e dignidade maculadas, numa situação na qual não sei sequer do que sou acusado. Mesmo assim, gostaria de esclarecer que: 1. Não recebi doações da Odebrecht para minhas campanhas eleitorais; 2. Não tenho ou tive qualquer relação com a empresa ou os seus dirigentes. 3. Tenho minha consciência tranquila de que nada fiz de errado."
Zeca do PT nega recebimento
Veja íntegra da nota do deputado federal:
"Tomei conhecimento agora há pouco do inteiro teor da denúncia contra minha pessoa acatada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Diz a denúncia, que o delator do Grupo Odebrecht se refere a um pagamento de R$ 400 mil para minha campanha a Governador em 2006. Em seguida diz o mesmo delator, que tendo ocorrido minha desistência da candidatura naquela eleição, o referido valor foi repassado ao Senador Delcídio, candidato do PT ao governo, com o qual mantinha detalhadas reuniões, segundo o mesmo delator.
Ocorre ai um erro enorme. Fui eleito governador em 1998 e reeleito em 2002. Portanto em 2006 estava impedido de ser candidato a governador e não disputei nenhum cargo naquela eleição.
Apoiei o nosso candidato, mas não tive nenhuma outra responsabilidade, seja de captação, seja de prestação de contas junto a Justiça Eleitoral. Esperando ter esclarecido a opinião pública, peço reparação da injustiça cometida nesta denúncia."
Fonte: G1