106,5 FM
Rádio Costa Oeste
Com todo esse currículo e as recomendações recebidas, o foco
deste post deveria ser a chegada de um jogador técnico e experiente, com
capacidade para ajudar muito o Guarani em uma difícil competição. Mas,
infelizmente, a vinda de Richarlyson foi ofuscada pelo relato de que dois
imbecis deram voltas em torno do Brinco de Ouro, em uma motocicleta, atirando
bombas em frente ao estádio pouco antes do anúncio oficial da contratação. Após
esse incidente, a diretoria do Guarani prestou queixa na polícia e destacou que
essa manifestação estúpida e isolada não reflete o pensamento de sua torcida.
E, felizmente, posso dizer que a contratação de Richarlyson foi muito bem
recebida e elogiada pela maior parte da torcida bugrina, tanto em grupos de
discussão quanto em blogs e comentários em redes sociais. Porém, não posso
deixar passar em branco mais esta história de homofobia no futebol sem comentar
o quanto é triste ver o tanto de preconceito que ainda existe neste universo.
Uma reportagem publicada pela Agência Pública, intitulada
"O tabu das arquibancadas" (escrita por Ciro Barros e Giulia Afiune),
resgata outro caso significativo: no início de 2012, o Palmeiras manifestou
interesse em trazer Richarlyson para o seu time. Uma parcela da torcida, porém,
protestou contra a possível contratação e dois manifestantes chegaram a
estender uma faixa com a frase "a homofobia veste verde".
Richarlyson, que acabou indo jogar no Atlético-MG após esse incidente,
comentou, semanas depois, o episódio em entrevista concedida à Rádio Itatiaia:
"Vamos botar a bola para frente, parar com isso,
respeitar a pessoa independente da opção sexual, do credo, da religião (...).
Estamos no século XXI, tanta coisa já mudou e as pessoas ficam preocupadas com
a vida pessoal de cada um. Cada um tem a sua maneira de viver e pensar e a
minha é essa."
Lamentavelmente, o autointitulado país do futebol também é
um lugar no qual, a cada 25 horas, pelo menos uma pessoa lésbica, gay,
bissexual, travesti ou transsexual é assassinada - dado estarrecedor levantado
pelo Grupo Gay da Bahia, que há 37 anos compila anualmente os casos de vítimas
de homofobia no Brasil. Por este e outros tantos motivos, digo que não, não é
mais possível ficar passando pano para torcedores babacas que jogam bombas e
cometem outras atitudes agressivas vociferando que futebol é "coisa de
macho", normalizam comportamentos preconceituosos dizendo que são apenas
"piadas" e tomam atitudes como chamar adversários, usando conotação
pejorativa, de "viados". Para estes, recomendo adotar a mesma postura
de Gabriela Moreira, repórter da ESPN Brasil, que ao ouvir um torcedor
palmeirense chamando são-paulinos de "bichas" (a partir do momento
1:20 do vídeo abaixo) o retrucou com as seguintes palavras:
"Rapaz, vou te falar uma coisa, não sei se vai ganhar.
Mas com esse 'bicha'? Não à homofobia, né? Você tem quantos anos? Por favor,
vamos tentar modernizar este pensamento..."
Fonte: ESPN