Uma captação de órgãos feita pelo Hospital Bom Jesus de Toledo não pode ser concluída devido à falta de aeronaves para transporte até o Rio de Janeiro. A situação ocorreu no começo do mês e o coração, fígado, rins e córneas não puderam ser doados para os pacientes que estão na fila de espera.
Os órgãos seriam captados de um jovem de 19 anos, que teve morte encefálica no dia 31 de janeiro, após sofrer um disparo de arma de fogo. Devido ao tipo sanguíneo do rapaz ser AB negativo, os receptores são mais raros de serem encontrados e a equipe do hospital iniciou o processo com a família para garantir a captação dos órgãos.
"Acabamos fechando um dos protocolos mais difíceis que já tivemos, desde o diagnóstico até o processo com a família, que ficou com receio do processo, mas depois aceitou a doação. O tipo sanguíneo é o mais difícil para encontrar receptor. Para esses órgãos, não havia nenhum receptor no Paraná e a oferta foi para o nível nacional", explica o coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de ??rgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) do Bom Jesus, Itamar Weiwanko.
Como o transplante seguiria para outro estado, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) deveria fazer o transporte. A aeronave solicitada não veio para Toledo, com a informação de que não haveria teto para pouso na cidade e o voo não poderia ser feito.
Após 17 horas de espera, a família solicitou a liberação do corpo para sepultamento e os órgãos não foram retirados. "Alegaram pra gente que não haveria condições de um avião vir durante a madrugada do dia 1º, aguardamos o tempo máximo e nenhuma aeronave apareceu para buscar os órgãos.
"Assim, eles não foram retirados, foram desperdiçados", lamenta o coordenador da Comissão de Doação de ??rgãos.
Segundo informações apuradas pela equipe do hospital, o Aeroporto de Toledo no dia 1º de fevereiro estava aberto para pousos e decolagens. O caso ficou conhecido nacionalmente, após o jornalista Ricardo Boechat, em programa da Band News FM, relatar que aviões da FAB foram utilizados em mais de 20 viagens no mesmo fim de semana para o transporte de políticos.
O Hospital Bom Jesus informou que no dia 1º de fevereiro um ofício foi encaminhado a Central Estadual de Transplantes e a 20ª Regional de Saúde, solicitando esclarecimentos sobre o caso. Até o momento, nenhuma resposta foi dada a equipe.
Vidas perdidas
Em janeiro deste ano, o menino Gabriel de 12 anos, deixou de receber um coração novo por falta de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e morreu 14 dias depois do doador aparecer.
Ele estava em um hospital em Brasília, à espera de um transplante.O coração em boas condições estava disponível em Pouso Alegre (MG), mas a chance de sobreviver foi desperdiçada por falta de transporte. A FAB recebeu o pedido para o transporte do coração, mas se recusou à atender o pedido.
Maior captação de 2016
No último sábado (6), o Hospital Bom Jesus realizou a maior captação de órgãos de 2016. Os órgãos foram doados pela família de um jovem de 19 anos, que morreu após um acidente de trânsito na região. Foram captados o coração, rins, fígado e fragmentos ósseos. O material coletado foi levado por duas aeronaves, uma do governo do Paraná e outra de São Paulo, para receptores dos dois estados.
Fonte: Catve