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Rádio Costa Oeste
Escutas telefônicas e mensagens localizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e Corregedoria da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, revelam detalhes do quanto os policias presos na Operação Oiketipus cobravam de propina para liberar o contrabando de cigarro no estado.
Os valores variavam de acordo com a patente dos policiais. Soldados, cabos e sargentos recebiam entre R$ 500 e R$ 3 mil por semana. Oficiais comandantes chegavam a receber R$ 30 mil mensais para fazer parte do esquema criminoso.
De acordo com a investigação, o quartel da PM na cidade de Jardim (MS) era uma uma espécie de escritório dos policiais corruptos. Durante dois anos o tenente coronel Admilson Cristaldo foi o comandante do Batalhão da PM na cidade.
Da sala que ocupava no prédio, Cristaldo alterava as escalas das patrulhas e tirava os policiais das rotas por onde iriam passar os caminhões de cigarros. Além disso, ele mantinha contato com comandantes de outros batalhões, em outras cidades, que também faziam parte do esquema, e que também foram presos.
Apesar de ter um salário em torno de R$ 17 mil, o tenente coronel Admilson Cristaldo ostentava riqueza. Durante as Olimpíadas do Rio, ele passou um fim de semana em um hotel 5 estrelas de Copacabana, e pagou R$ 7.998,00 pelas diárias. Gastou mais de R$ 25 mil em uma loja de grife em um shopping de São Paulo.
Admilson Cristaldo adquiriu uma banheira de hidromassagem por R$ 28 mil, e quase R$ 80 mil em uma moto que usou para viajar de Campo Grande até os Estados Unidos, em janeiro. O pagamento era sempre feito em dinheiro vivo, e à vista. O tenente-coronel chegou a descobrir que estava sendo monitorado. Mas já era tarde.
Segundo a coordenadora do Gaeco, Cristiane Mourão, quando ocorria algum tipo de fiscalização, os envolvidos no esquema intervinham diretamente para que aquela ocorrência não fosse registrada e a carga fosse liberada.
Em uma escuta telefônica autorizada pela justiça, dois contrabandistas, identificados como Djalma e Afonso, reclamam que os policias estavam pedindo muito dinheiro.
Segundo o corregedor-geral da Polícia Militar de MS, Edmilson Lopes, durante a operação foram apreendidos documentos e outros materiais. “Em razão da apuração desses fatos novos, podem surgir novas prisões e podem também ser verificados que há participação de outros policiais”, revelou o corregedor.
A investigação descobriu que o esquema de corrupção passou bem perto da maior autoridade do Estado. O terceiro-sargento Ricardo Campos Figueiredo, que trabalhava como motorista do governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, também foi preso.
Quando a polícia chegou à casa dele com um mandado de busca e preensão, Ricardo se trancou no banheiro e destruiu dois celulares. Acabou preso por obstrução de justiça. Ele era investigado há um ano, período em que continuou trabalhando no governo. Depois da prisão, Ricardo foi exonerado.
As rotas do cigarro clandestino saem do Paraguai e entram no Brasil por cidades como Sete Quedas, Bela Vista, Ponta Porã e Porto Murtinho. Três em cada quatro maços de cigarro paraguaio entram no país pelas estradas de Mato Grosso do Sul.
No Brasil, os cigarros clandestinos já representam 48% do mercado e, só no Rio de Janeiro, eles movimentaram R$ 1 bilhão no ano de 2017. De acordo com o superintende da Polícia Federal de Mato Grosso do Sul, Luciano Flores, o lucro dos cigarros é uma das principais fontes de renda de facções criminosas que hoje estão assombrando várias regiões do país.
Fonte: g1