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Rádio Costa Oeste
O governo acelerou a liberação do uso de novos agrotóxicos no país e aumentou a preocupação de especialistas com os riscos que isso pode representar para a saúde e o meio ambiente.
Nunca tantos agrotóxicos foram liberados num intervalo de tempo tão curto no Brasil. Em 2019, o governo já autorizou 239 novos pesticidas, sendo 42 só esta semana. Um recorde. Já são ao todo mais de dois mil agrotóxicos licenciados para uso nas lavouras brasileiras.
O último levantamento da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação mostra que o Brasil foi o país que mais gastou com agrotóxicos no mundo, à frente de Estados Unidos, China, Japão e França.
O Ministério da Agricultura não contestou esses dados, mas afirma que o Brasil não é o campeão mundial de agrotóxicos. O país apareceria em 44º lugar no ranking que mede a quantidade de pesticidas por hectare, atrás de Bélgica, Itália, Portugal e Suíça.
Uma pesquisadora da Universidade de São Paulo questiona os dados do levantamento. Segundo Larissa Bombardi, do Departamento de Geografia da USP, o cálculo incluiria as áreas de pastagens, o que alteraria o resultado final.
“Se nós olharmos os dados do último censo do IBGE em termos de ocupação agrícola no Brasil, o pasto, a pastagem é aquilo que ocupa a maior área. E a pastagem usa pouquíssima quantidade: menos de 10% do volume de agrotóxicos utilizados no Brasil tem como destino o pasto. Então, quando você soma o pasto na área agriculturável do Brasil, esse volume enorme de agrotóxicos dilui e parece que usamos pouco”, explicou.
A pesquisadora afirma que 40% dos agrotóxicos autorizados essa semana utilizados no Brasil foram banidos da União Europeia pelos elevados riscos à saúde e ao meio ambiente.
“Eu penso que o Brasil está andando para trás. Desses 42 agrotóxicos autorizados essa semana, 40% são proibidos na União Europeia. Alguns deles há 15 anos. Há um inseticida chamado atrazina que é proibido há 15 anos na União Europeia, porque é neurotóxico e, no entanto, ele está no rol, está na lista das substâncias autorizadas esta semana no Brasil”, continuou Larissa Bombardi.
O Ministério da Agricultura afirma que todos os defensivos liberados em 2019, com exceção de uma nova substância, já existem no mercado e que a oferta de genéricos abre caminho para a concorrência.
Especialistas denunciam outros problemas relacionados à multiplicação de agrotóxicos no Brasil. Além da falta de fiscalização e da orientação técnica para o agricultor sobre como aplicar corretamente os pesticidas, o país não está em dia com as análises dos alimentos para saber se eles estão chegando à mesa do consumidor com excesso de agrotóxicos.
Luiz Claudio Meireless, pesquisador da Fiocruz e ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, lembra que o último relatório sobre riscos de contaminação dos alimentos foi publicado em 2016.
“A Anvisa, por exemplo, nos últimos anos. Eu não tenho visto o trabalho que ela tinha na área de controle. E, mesmo assim, nós tivemos já dois anos sem coleta. O outro problema é o monitoramento de mercado, que é importante você fazer um mapeamento daquelas substâncias perigosas, como é que são distribuídas. Isso não aconteceu mais. Notícia de fiscalização não tem acontecido”, avaliou.
O Ministério da Agricultura afirmou que o maior número de licenciamentos se deve à agilidade na análise dos pedidos e criticou a comparação dos agrotóxicos usados no Brasil com a Europa. A comparação correta seria com outros países como Estados Unidos e China que praticam agricultura de larga escala. O Ministério garantiu a segurança dos alimentos.
"Eu não vejo como um risco à saúde primeiro porque a gente não tem um aumento do uso de agrotóxicos a campo, na verdade esses produtos vão disputar um mercado que já está consolidado e a garantia legal de que eles foram amplamente avaliados pela Anvisa", afirma o coordenador geral de agrotóxicos do Ministério da Agricultura, Carlos Ramos Venâncio
A Anvisa informou que o programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos continua ativo e que deve publicar dados novos no segundo semestre.
Fonte: G1