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Rádio Costa Oeste
Dessa vez o problema não foi na lavoura. As baixas temperaturas registradas no último fim de semana na região Oeste do Paraná causaram problemas principalmente para os pecuaristas.
Quem trabalha com gado leiteiro viu as pastagens serem queimadas pela geada, o que compromete o trato dos animais e, consequentemente, a produtividade e o custo de produção do leite. “O pasto e a grama queimaram tudo. Sobrou um pouco de aveia, mas sem chuva também não cresce”, comenta o produtor de leite Ervino Krause. “Quem não fez estoque de silagem e feno vai passar por apuro”, alerta.
Por outro lado, o pecuarista ressalta que os produtores que trabalham na atividade há mais tempo já têm noção das variações climáticas da região e, por isso, se prepararam com silagem, sorgo e feno, este último que tem maior produção no verão e preço mais competitivo.
Nessa circunstância, declara ele, a produtividade do animal acaba diminuindo para quem não tem o gado confinado e depende do pasto, o que é a realidade de boa parte dos produtores de leite de Marechal Cândido Rondon. “E a maioria são pequenos produtores. Quem depende da pastagem vai ter uma quebra grande. Se o produtor não tiver preparado o estoque de comida, terá um alto custo com complementação de feno e ração. Agora tem disponível a cana, que vai matar a fome do animal, mas não vai ter influência na produção”, enaltece.
Para Krause, a produção nesta época do ano está na casa dos 500 litros ao dia, porém, no verão, a produtividade pode passar dos 800 litros ao dia.
Morte de leitões
Em uma das madrugadas mais frias do ano, de sábado (06) para domingo (07), quando os termômetros marcavam 2ºC, cerca de 300 leitões morreram em uma Unidade Produtora de Leitões (UPL) de sete mil matrizes na Linha Felicidade, em Entre Rios do Oeste. O problema, segundo o produtor Jorge Rambo, não foi o frio, mas, sim, uma queda de energia que durou aproximadamente quatro horas. “A granja conta com placas aquecidas no chão, que é como o leitão se aquece. Quando começa a cair a temperatura, consequentemente o animal começa a passar frio. Com a queda de energia, devido ao esfriamento das placas, os leitões começaram a morrer”, lamenta o produtor.
Rambo descreve que o problema das quedas de energia na localidade não é novidade. Na Linha Felicidade ele diz que as quedas são quase diárias. “Já faz mais de dez anos que estamos pedindo que a qualidade do fornecimento da Companhia Paranaense de Energia (Copel) melhore. Há cerca de 15 anos fizemos um abaixo-assinado pedindo luz trifásica na Linha Santa Felicidade, em Santa Helena, que tem o mesmo problema da Linha Felicidade de Entre Rios do Oeste”, comenta. “As oscilações são tamanhas que a cada três meses uma bomba de um poço artesiano queima e lâmpadas queimadas são centenas por mês. É um problema que se repete e buscamos solução há anos”, menciona.
O produtor considera que, por serem proprietários rurais ao lado de uma das maiores hidrelétricas do mundo, tendo perdido suas propriedades para formar o Lago de Itaipu, é lamentável que não tenham direito à energia elétrica trifásica de qualidade que atenda as propriedades. “Mais do que justo seriam as propriedades que de maneira intensiva produzem e agregam valor às commodities agrícolas terem uma energia de qualidade”, salienta Rambo.
Trigo congelado
Apesar de serem poucas, ainda são registradas algumas pequenas áreas de trigo semeadas na região Oeste. Essas, de acordo com o engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha, da Agrícola Horizonte, podem ter sido prejudicadas quase que totalmente. “As que estão em fase de espigamento, florescimento e início do enchimento do grão, há uma interrupção e a planta não consegue mais seguir, então em alguns dias as perdas serão visíveis na cultura do trigo”, expõe.
Já para áreas que estavam em desenvolvimento inicial, a geada não deve prejudicar o desenvolvimento das plantas.
Cunha diz que são poucos os agricultores que fazem o plantio de trigo na região. Aqueles que apostam na cultura o fazem normalmente porque a área de milho liberou mais cedo para silagem. “A opção do agricultor é ir para o milho safrinha porque é mais rentável e com muito menos risco, tanto é que agora tivemos essa geada e as poucas lavouras que ainda não haviam sido colhidas não foram afetadas porque o milho já estava maduro”, ressalta.
O engenheiro agrônomo estima que na região de Marechal Rondon a área de milho safrinha colhida já passa dos 95%. Caso o milho não estivesse nesta fase, em uma situação climática como a deste último fim de semana, os problemas estariam na produtividade e na qualidade. “Tudo que está na folha e no colmo em termos de nutriente é direcionado para o enchimento de grão, então quando ainda tem folhas verdes e o milho pega uma geada, o nutriente que iria para o grão deixa de ir e normalmente a maioria das variedades esgota a reserva que tem no colmo, resultando em problemas de acamamento”, detalha. “Outra situação é a qualidade do grão, com problemas de maturação, com um grão que ainda não estaria maduro”, complementa.
Conservação do solo
Nas áreas onde o milho já havia sido colhido, a geada e as temperaturas baixas também não prejudicam para o plantio futuro. Na verdade, vem em benefício do produtor. “É quase que uma dessecação natural: as plantas daninhas que estavam aparecendo são controladas pela geada, e mais importante do que isso é o controle de pragas. A temperatura em 0ºC ou abaixo disso faz o controle de pragas que seriam danosas para a próxima cultura que será implantada nas lavouras da região”, afirma Cunha.
A sequência agora será o plantio da soja. No período de entressafra, os agricultores trabalham com a correção do solo, utilizando calcário, fertilizante para deficiências já identificadas no solo, conservação do solo com manutenção de bases largas, entre outras ações. “O plantio da soja começa no início de setembro. Ao fim do vazio sanitário, é possível já ter planta emergida no solo, então alguns agricultores já se antecipam”, destaca Cunha.
Fonte: O Presente