Historicamente, o Dia das Mães é conhecido pelo comércio como a segunda data mais lucrativa do ano, perdendo apenas para o Natal. Em 2016, porém, a crise econômica e a crise politica são apontados como entrave para o setor.
No Paraná, as empresas devem evitar contratações temporárias para suprir a demanda. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomercio), a expectativa dos empresários é, na melhor das hipóteses, evitar demissões e manter o quadro atual de funcionários para a data.
Para o diretor de Gestão e Planejamento da Fecomercio, Rodrigo Rosalent, uma das razões para isso está na queda de vendas que os comerciantes experimentaram em 2015. Conforme dados da Fecomercio, o setor caiu 8,12% no faturamento. No entanto, o fechamento de vagas não acompanhou o mesmo ritmo. O total de vagas fechadas no ano foi de apenas 2%.
Conforme dados da instituição, nos dois primeiros meses deste ano, o faturamento encolheu 8,34% e o número de vagas já caiu 6,54%. Rosalent diz que em 2015 os comerciantes preferiram segurar os funcionários, apostando em uma possível melhora neste ano, o que não aconteceu.
O superintendente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Diego Menão, diz que se a tendência de redução de vendas em datas especiais se repetir, assim como vem acontecendo desde 2014, o índice de contração será menor.
"No Natal de 2015, o número de vagas temporárias disponíveis foi um terço menor do que no mesmo período de 2014. Para o Dia das Mães deste ano a projeção de contratação é ainda menor. A economia está em um estágio muito mais retraído do que há quatro meses, então a tendência é a redução de oferta de vagas", explica. "O empresário está com margem cada vez menor, vai apelar por contratação temporária só no último caso", acrescenta o superintendente da Acil.
Por outro lado, a Agência do Trabalhador em Londrina, no norte do estado, está com 378 vagas de emprego disponíveis, sendo que 150 são para operador de telemarketing e 176 destinadas para pessoas com deficiência. O restante é para açougueiro e consultor de vendas.
A redução ou a falta de ofertas de empregos nessa época do ano se repete em outras cidades do interior do estado. Em Maringá, que até 2013 abria, em média, 350 vagas temporárias para o período, este ano ainda não há nenhuma vaga desse tipo na Agência do Trabalhador.
"Essa é a pior crise de vagas de emprego nos últimos oito anos. Estamos dando entrada de 120 pedidos de seguro desemprego diariamente e não previsão de que isso vai melhorar", pontua o diretor da Agência, Maurilio Mangolin.
Contratação diferenciada
Rosalent explica que as eventuais contratações temporárias do Dia das Mães funcionam de forma um pouco diferente da época do Natal. O principal motivo é o engajamento dos clientes com a data. Já em novembro, muitas famílias decoram as casas, começam a se preparar para o fim do ano e planejam as compras. Além disso, há a entrada de recursos como o 13º salário, que aumentam o poder de compra.
"A contratação de temporários no Dia das Mães ela é menos significativa que no Natal. Na prática, o número de novos empregos não é muito relevante", diz. No entanto, em tempo de fortalecimento das redes sociais, é possível encontrar vagas disponíveis em anúncios na internet, ou até mesmo no método mais tradicional, o boca a boca.
"Pelo o que se verifica internamente há uma queda no otimismo com relação a alguns períodos do ano. Acredito que haverá contratações para o Dia das Mães, mas as empresas vão buscar um profissional que atue por dois ou três dias apenas, sem a necessária realização de um contrato de trabalho", salienta o diretor de economia do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá, João Ricardo Tonin.
Na região noroeste do Paraná, alguns empresários continuaram com os funcionários que foram contratados temporariamente no Natal, e por isso não vão abrir outras vagas. Em Cianorte, a Agência do Trabalhador acredita em um período de demissões será presenciado após o segundo domingo de maio. Isso porque, os comerciantes vão enxugar gastos. Paranavaí e Umuarama não têm tradição de contratação extra para o período.
Em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, Guarapuava, na região entral, e em Cascavel, no oeste, a situação se repete. As agências estão sem ofertas de empregos temporários e as Associações Comerciais e Industriais não veem perspectivas melhores.
Foz do Iguaçu é uma das poucas cidades que vivem uma situação atípica. Com a inauguração de um shopping nas próximas semanas, diversas lojas estão contratando. Há vagas para vendedores, para a área técnica e administrativa. As empresas estão dentro da Agência do Trabalhador recrutando candidatos com urgência para que possam realizar as primeiras vendas nessa segunda data mais esperada pelo comércio no ano.
"Essa é a hora de o empresário ser ousado e criativo. O Dia das Mães deve ser utilizado para angariar e fidelizar mais clientes e promover produtos de forma diferente. Mesmo vivendo uma crise econômica, ainda há pessoas que vão consumir, ainda há espaço para crescer. O empresário só não pode agir da mesma maneira que antes", define o superintendente da Acil, Diego Menão.
Horizonte nebuloso
O diretor da Fecomercio diz que as perspectivas para os próximos meses não são animadoras. O setor trabalha atualmente, segundo ele, sem um horizonte claro. Com isso, as contratações podem ficar ainda mais reduzidas. "O que nos preocupa, em primeira instância, é o corte de pessoal em empresas de médio e grande porte e o fechamento das pequenas e médias, que têm menos fôlego para se sustentar durante a crise", diz Rosalent.
Segundo ele, a falta de pessoas empregadas gera uma paralisação da economia. Todavia, ele crê que seja possível, com as eventuais mudanças políticas que podem acontecer nas próximas semanas, que seja possível melhorar o cenário. "O mínimo que nós esperamos é que o governo tenha responsabilidade fiscal", diz. Havendo ou não impeachment, ele espera que quem vá governar nos próximos anos aplique medidas efetivas para melhorar a gestão pública.
Ele acredita que para o comércio, independente de quem esteja à frente do governo, o estrago para a economia já está posto. "O primeiro semestre de 2016 já está perdido. A gente sabe disso desde janeiro. Alguma coisa pode começar a mudar no último trimestre do ano. Mas sendo mais realista, é muito provável que a gente também tenha perdido 2016 e vamos tentar recuperar 2017"", diz.
Fonte: G1