Um dos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que permanecia internado após o confronto com a polícia militar em Quedas do Iguaçu, no oeste do Paraná, deixou o hospital nesta terça-feira (12) e foi preso. No enfrentamento, na tarde de quinta-feira (7), na Linha Fazendinha, dois sem-terra morreram e outros seis ficaram feridos.
O trabalhador ferido teve a prisão preventiva decretada e deve permanecer preso na carceragem da 15ª Subdivisão de Polícia Civil em Cascavel, também no oeste. Ele deve prestar depoimento nesta tarde, segundo a delegada responsável pelo caso, Ana Karine Talodetto. ???Dois promotores de Quedas do Iguaçu vão acompanhar a oitiva???, comentou.
O outro ferido, que também teve a prisão preventiva decretada, continua internado em Cascavel, mas já deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o quadro de saúde é estável. ???Ele está no hospital mediante escolta e assim que receber alta também será trazido para a 15ª SDP, onde permanecerá juntamente com o outro???, observou a responsável.
Ainda de acordo com a delegada, as investigações estão aceleradas para que o inquérito possa ser concluído até sexta-feira (15).
Proposta para acordo
Pela manhã, houve uma nova reunião na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Curitiba para discutir os conflitos por terra na região. Participaram o ouvidor do Ministério do Desenvolvimento Agrário, representantes do MST e da Araupel, empresa de beneficiamento que disputa com a União a propriedade de terras em Quedas do Iguaçu e municípios vizinhos.
No encontro, a Araupel apresentou uma proposta para que os integrantes do movimento permaneçam na área invadida até que a Justiça decida definitivamente a questão, desde que os funcionários da empresa tenham acesso às terras e às plantações. Além disso, a beneficiadora se propõe a ceder mais 190 hectares de terras para as famílias que quiserem deixar os acampamentos. O acordo deve ser discutido pelos sem-terra à tarde.
???A empresa está cedendo uma área para as famílias que hoje estão acampadas em Quedas do Iguaçu e em Rio Bonito do Iguaçu, autorizando a permanência delas desde que a empresa possa trafegar livremente dentro de suas áreas para manter os empregos e a unidade fabril, tanto de Quedas do Iguaçu como de Guarapuava???, destacou o advogado Leandro Salomão.
Para o ouvidor nacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Gercino José da Silva, com esta proposta será possível avançar em um acordo com os sem-terra.
???Está havendo uma concordância das autoridades públicas presentes até agora. Vamos submeter a proposta à apreciação do MST. E, ao que tudo indica, o MST deve concordar com esta proposta porque é uma maneira boa de pacificação do conflito até que a Justiça defina se este imóvel em questão é público ou particular???, avaliou.
Investigações
Na sexta-feira (8), o ministro da Justiça Eugênio Aragão determinou a abertura de inquérito pela Polícia Federal (PF) para investigar os fatos ocorridos durante o confronto em Quedas do Iguaçu.
As versões sobre o ocorrido divergem. O MST afirma que os sem-terra foram atacados pelas "pelas costas" e que foram vítimas de uma emboscada feita por policiais militares e por seguranças contratados pela Araupel.
Também na sexta, a Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp-PR) divulgou um áudio com parte do interrogatório de um dos integrantes do (MST) ferido no confronto, feito no Hospital São Lucas, em Cascavel.
Conforme a gravação, o primeiro disparo foi feito pelos sem-terra. Na conversa com a delegada Ana Karine, o sem-terra conta como ocorreu o confronto próximo ao acampamento Dom Tomás Balduíno e que os primeiros disparos foram feitos por um dos integrantes do MST.
A Sesp sustenta que o confronto ocorreu após policiais ambientais e um segurança da empresa Araupel seguirem até uma área de mata nativa supostamente atingida por um incêndio criminoso, onde foram surpreendidos. Os policiais atiraram após disparos de arma de fogo serem feitos contra o carro da polícia, alegam.
Morreram no incidente os trabalhadores rurais Vilmar Bordim, de 44 anos, casado, pai de três filhos, e Leomar Bhorbak, de 25 anos, que deixou a esposa grávida de nove meses.
Fonte: G1