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Rádio Costa Oeste
Faltando apenas 11 dias para o início do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, serão avaliados 5,1 milhões de estudantes brasileiros nos dias 3 e 10 de novembro. Além de medir a qualidade do ensino médio, o Enem é, para muitos, a principal porta de entrada para uma universidade pública ou privada.
Nem todos, porém, conseguem competir de igual para igual. O Paraná, por exemplo, é o segundo estado do Sul do país com a maior proporção de alunos atrasados no Ensino Médio: 22%.
Assim, a cada 100 alunos matriculados, 22 já reprovaram ou abandonaram os estudos por dois anos ou mais e estão hoje com idade escolar superior à recomendada, estabelecida entre 15 e 18 anos.
O índice é ainda maior no 1º ano do Ensino Médio: 25%. Essa taxa de distorção idade-série é criada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Dessa forma, os dados estão disponíveis no CADÊ Paraná, plataforma do Centro Marista de Defesa da Infância. A plataforma reúne indicadores relacionados aos direitos de crianças e adolescentes do Estado.
Outro número, também do Inep, mostra que em 2017 11% dos estudantes paranaenses abandonaram os estudos durante o Ensino Médio. Essa porcentagem é bastante próxima ao Ensino Fundamental II, que é de 10%. “É possível analisar que as taxas alarmantes começam no Ensino Fundamental II e tendem a piorar no Ensino Médio”, explica Beatriz Caitana, socióloga do Centro Marista de Defesa da Infância.
De acordo com a socióloga, esses números são reflexo de vários fatores relacionados tanto ao contexto familiar, da comunidade e até a qualidade da escola.
“Uma pesquisa desenvolvida pela UFMG com o Unicef aponta que fatores relacionados a infraestrutura escolar, como saneamento básico, acessibilidade e acesso a água, influenciam na permanência dos estudantes. Além disso, a condição socioeconômica da família, a busca por algum tipo de renda, além da expectativa sobre a escola e as perspectivas de futuro influenciam no rendimento escolar. Alegar falta de interesse do jovem por si só é minimizar os reais fatores”, garante Beatriz.
O Informe Temático “Investimento Público na Infância e Adolescência: desafios para uma gestão inclusiva” mostra que em 2016 o Paraná executou apenas 19,10% do valor total orçado pelo Estado para o Ensino Médio. Ou seja: a gestão do recurso público tem efeito direto na qualidade do ensino.
Assim, dados do Censo Escolar de 2018, organizados pelo CADÊ Paraná, mostram que 52% das escolas não possuem dependência acessíveis aos portadores de algum tipo de deficiência. Além disso, 44,2% não têm acesso à rede de esgoto e 43,9% não contam com biblioteca.
A projeção da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) é de que ao menos 158 mil crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos trabalhavam no Paraná em 2015. A maioria dos menores se encontravam em situação de trabalho infantil.
Dessa forma, identidade do Ensino Médio (currículo), condições da escola (infraestrutura, equipamento escolar), condição docente (qualificação, carreira, remuneração) e relação professor/aluno. Esses são os atuais desafios do Ensino Médio mapeados na publicação “Cadernos temáticos: juventude brasileira e Ensino Médio”. A publicação foi produzida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pelo Unicef.
Desenvolvida pela Ação Educativa em parceria com o Unicef, a publicação “Indicadores de Qualidade no Ensino Médio” (2018) elenca que a participação e gestão democrática da escola, a proposta pedagógica e mesmo a valorização da diversidade juvenil também são exemplos de indicadores de qualidade de ensino.
A estudante curitibana Amabylli Roberta de Senes, de 16 anos, passou neste ano por uma significativa transição. Ela saiu de um colégio público estadual para uma instituição concorrida e bem conceituada, também estadual. O primeiro, ela conta, tinha instalações extremamente precárias. “De certa forma era até insuficiente para suportar a quantidade de alunos”, conta.
Ainda assim, para ela, o maior choque foi com relação ao corpo docente. “A forma como meus professores atuais se importam com a gente (e não só com as notas), como oferecem apoio constante com reforço, assistência, e também suporte emocional, fizeram com que eu me interessasse ainda mais pelos estudos. Um colégio aconchegante, limpo e uma infraestrutura boa podem transformar o aprendizado dos alunos e até estimulá-los a estudar e prestar mais atenção. E acho que não só nas escolas, mas qualquer lugar que tenha um ambiente agradável proporciona isso”, conta a jovem, hoje no 2º ano do Ensino Médio.
Fonte: Ric Mais / Assessoria