A prisão de 41 pessoas em uma chácara na noite de sábado (14) em Mairiporã, na grande São Paulo, mostra que o Brasil está na rota internacional de apostas em rinhas de cachorros. A investigação começou com a Polícia Civil de Curitiba, a partir da denúncia de que um criador da capital e um treinador de cães de São José dos Pinhais eram quem forneciam alguns dos cães para um campeonato internacional de brigas da raça pit bull. Agora responsável pela investigação, a Polícia Civil de São Paulo vai entrar em contato com agências internacionais para prosseguir a apuração.
Entre os detidos, estão um americano que atuava como árbitro das rinhas, um peruano e um mexicano. Também foram presos em Mairiporã um médico e um policial militar, além de um médico veterinário que tinha a tarefa de reanimar os cães muito feridos para continuarem lutando.
De acordo com o delegado Matheus Layola, da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) em Curitiba, a rinha em Mairiporã era de um torneio internacional. “Ano passado a disputa foi na República Dominicana, esse ano no Brasil e ano que vem provavelmente seria em outro país. Eles eram extremamente organizados. Na camiseta do evento tinha a pesagem de cada animal. As apostas, além de físicas, também eram feitas pela internet, em grupos fechados do mundo inteiro”, explica o policial.
A competição tinha o nome de Circuito Internacional 4 x 4. Havia premiação com troféu e dinheiro, apostas online e até separação de categorias entre machos e fêmeas. Na última edição da rinha em outubro, na República Dominicana, um cachorro paranaense venceu a disputa. “Temos informação de que queriam comprar este animal por R$ 50 mil, mas o criador não vendeu”, afirma o delegado. De acordo com delegado, um cachorro campeão poderia chegar a custar R$ 200 mil – o preço de um carro de luxo.
Treinamento e cena de terror
O criador do bairro Capão da Imbuia em Curitiba e o treinador de São José dos Pinhais treinavam os cachorros para as competições como se fossem atletas de fato. Primeiro, os filhotes eram selecionados geneticamente. Na preparação para as lutas, os cachorros faziam esteira, natação, além de serem forçados a consumir suplementos alimentares e anabolizantes. Pouco antes das brigas, os animais ficavam sem comer e beber água para ficarem ainda mais violentos no ringue.
“Era uma cena de terror. Tinha cachorro morto, cachorro machucado, cachorro que era morto e era assado para eles comerem”, afirma Layola. O “churrasco” com carne dos cachorros era consumida pelo próprio público e organizadores. “Parecia um ritual macabro. A médica veterinária que nos acompanhou foi quem disse que a carne assada era de cachorro. A gente inicialmente não acreditou”, espanta-se o delegado.
Outra coisa que chamou a atenção dos policiais é que de tão machucado, um dos cachorros chegou a urinar sangue. Apesar dos ferimentos graves, nenhum dos cachorros precisou ser sacrificado.
Investigação
Após monitorar a dupla a partir de Curitiba, a Polícia Civil do Paraná pediu apoio à polícia paulista para estourar a rinha de cães em Mairiporã. Cerca de 100 policiais participaram da ocorrência. Foram presos 35 pessoas na hora. Seis homens que estavam na rinha e conseguiram fugir voltaram ao local e também foram detidos, totalizando 41 prisões.
Os animais seguem em São Paulo sob cuidados de ONGs de proteção animal. O delegado lamenta que dificilmente esses cães vão voltar a viver com outros cachorros. “Pelas imagens, dá para ver que eles são extremamente dóceis com humanos. A gente chegava perto, eles ficavam com os rabinhos abanando, mesmo bastante machucados. Mas se colocar esses cachorros perto de outros animais, eles se matam”, concluiu o delegado paranaense.
Os 41 detidos seguem presos e irão responder por associação criminosa, maus-tratos contra animais com agravante de morte e jogo de azar.
Fonte: Tribuna do Paraná