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Rádio Costa Oeste
Os protocolos sanitários a serem adotados para o retorno às aulas no Paraná estiveram em debate na reunião remota da Frente Parlamentar do Coronavírus da Assembleia Legislativa do Paraná desta quinta-feira (23). Entre as propostas estudadas pela Secretaria de Estado da Educação (SEED), estão o retorno híbrido com 50% de aulas remotas e outros 50% de forma presencial e revezamentos dos formatos a cada 15 dias.
O documento com o protocolo de retorno apresentado na reunião pela diretora de planejamento da SEED, Adriana Kampa, propõem que os alunos sejam divididos em dois grupos. Cada grupo fará revezamento permanecendo por 15 dias em aulas presenciais e por 15 dias em aulas remotas (online). Outra proposta é que o acesso às escolas não exceda 30% da capacidade até o fim do ano letivo de 2020.
Kampa, que representou o secretário Renato Feder, ressaltou que a equipe está trabalhando há cerca de um mês, ouvindo todo o segmento, pautando para que a sociedade faça suas contribuições. “O momento do Paraná é complicado. Isso preocupa a toda a sociedade. Enquanto Estado, essa também é nossa preocupação”, destacou.
São mais de um milhão de estudantes só na rede estadual. Segundo Adriana, como é a pandemia que vai dizer quando voltar, a orientação deve ser contínua, afinal, vai se exigir uma mudança de hábitos que será permanente. A data do retorno às aulas ainda não foi definida.
O protocolo básico que está sendo construído pela SEED inclui ainda o distanciamento físico, organização nas entradas e saídas, cuidados no transporte escolar, distribuição de EPIs. Tudo de forma escalonada com aferição de temperatura de todos os envolvidos. E o modelo híbrido, com parte dos estudantes em casa. Assim, as famílias poderão escolher se querem ou não enviar seus filhos para a escola.
“Nós temos que dar condições para que as famílias se sintam seguras em fazer a indicação do seu filho para o retorno presencial ou não. As famílias tem que ter essa opção, porque muitas delas não se sentem seguras para um retorno”, explica Kampa.
Em um levantamento preliminar do comitê que monitora a situação, foi feito um mapeamento de quantidade de insumos e material de consumo necessários para um possível retorno; mapeamento de profissionais da educação afastados (5.126 com mais de 60 anos) e um comparativo com metodologias empregadas por outros estados e países sobre medidas sanitárias.
Mesmo diante de tantas dificuldades, Adriana Kampa conseguiu apontar um dado positivo nesse momento. “Se tem algo positivo em tudo isso, é a proximidade que a educação está tendo com as famílias. Os pais estão mais interessados na escola”.
Integrante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Marlei Fernandes, apresentou números do setor de educação no Brasil. Por exemplo, que são 47 milhões de matriculados no país. Sendo que 40 milhões são de escolas públicas. E 4,5 milhões de profissionais. “Tratamos de um universo muito grande. Um projeto de lei que está no Congresso, parecido com o do deputado Requião Filho, prevê diretrizes para o retorno. Nenhum estado tem condições de voltar nesse momento. Mesmo assim, não consideramos este um ano perdido”.
O problema, de acordo com Marlei, é que mais de 60% dos estudantes brasileiros não têm acesso ao computador. Ela defendeu que o processo de discussão seja amplo e que cada escola tenha seu próprio comitê, pois cada uma tem uma realidade diferente. O objetivo é que não se corra o risco de ampliar a exclusão.
Uma pesquisa recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) avaliou o risco de um retorno às aulas sem planejamento. Foram compilados dados do IBGE e do Ministério da Saúde. A conclusão foi que no Paraná, por exemplo, o estado conta com uma população adulta onde 20,8% tem pelo menos uma doença; 17,2% das famílias possuem pessoas acima de 60 anos que têm uma criança ou adolescente em idade escolar. Significa que 38% da população estão nessa condição.
Com base nesses dados, a Fiocruz chegou à conclusão de que mais de nove milhões de pessoas poderiam estar em risco com uma volta precipitada.
A secretária de Finanças da APP Sindicato, que apresentou os dados da pesquisa, lembrou que “da creche ao ensino superior, a educação está entre os grupos que ainda se mantêm no isolamento social. E que por isso é importante a integração das políticas públicas. A SESA vai nos dizer quando voltar e nos orientar sobre o momento e forma ideais de voltar. Os passos podem ser elaborados com antecedência para estar tudo organizado”.
Esther Cristina Pereira, presidente do Sinepe, disse que o sindicato representa 500 escoas privadas e atende a 480 mil alunos. Ela avaliou que conversas com as prefeituras mostraram que cada município terá seu próprio protocolo. Mas demonstrou preocupação com o fechamento de escolas particulares pequenas. O Sinepe agora atua para que esses estabelecimentos consigam acesso a empréstimos. Esther encaminhou aos deputados da Frente uma cartilha que elaborou e que traz orientações sobre o retorno. “Nos baseamos em protocolos adotados em outros países e também estamos em contato com a prefeitura de Manaus, onde as escolas particulares voltaram há três semanas. Um exemplo a ser seguido”.
Nove deputados acompanharam a reunião. Entre eles, Boca Aberta Júnior (PROS), Emerson Bacil (PSL), Mabel Canto (PSC), Nelson Luersen (PDT) e Soldado Fruet (PROS), que demonstrou preocupação com a migração de alunos do ensino particular para o público.
“Acredito que isso será um problema, já que o ensino público não tem estrutura para abrigar tanta gente. Minha opinião é que até que se tenha uma vacina, não voltem as aulas presenciais”, disse.
Para Boca Aberta Júnior, o retorno será um grande desafio para o Estado. “Nossa reivindicação é para que o Governo disponibilize testes para todos os profissionais da educação e que dê preferência para eles na vacina, já que o Paraná já anunciou que vai disponibilizar recursos para aquisição”.
Fonte: Banda B