Neymar e Fernando Prass, principais candidatos a usar a braçadeira de capitão da seleção brasileira de futebol na Olimpíada, disseram durante a preparação em Teresópolis que o objeto é apenas um símbolo. Minimizaram e adotaram o clichê de que todos podem e devem liderar.
Ok, pode ser, mas a escolha é relevante, e o processo de escolha foi ainda mais importante para recolocar um jogador na mais alta conta dentro da seleção. Se nenhum imprevisto, incidente ou conversa de última hora mudar a ideia da comissão técnica, Neymar entrará em campo no amistoso contra o Japão, sábado, com a faixa de capitão. E não só pela provável ausência de Prass, que machucou o cotovelo direito no início da semana e ainda faz tratamento.
Também será do atacante a braçadeira durante a Olimpíada. Uma decisão amadurecida pelos treinos e entrevistas, não só dele, como também dos companheiros, em tom de reverência.
Em setembro de 2014, ao reestrear no comando da seleção principal, Dunga atribuiu a função a Neymar pela liderança técnica, e apostou que num ciclo de quatro anos ??? interrompido por sua demissão no último mês de junho ???, o jovem poderia se tornar um líder completo.
Deu certo no início, com vitórias e um desempenho espetacular: oito gols nos primeiros sete jogos. Daí por diante, entretanto, Neymar levou mais cartões amarelos do que balançou redes, desfalcou a equipe por suspensões seguidas e logo entrou em conflito com o treinador.
Não passou pela cabeça de ninguém tirá-lo do time, mas a manutenção da faixa de capitão passou a ser repensada. Na seleção olímpica, a convocação de Fernando Prass indicou que a comissão técnica queria, além de um goleiro experiente e bom pegador de pênaltis, já que se trata de um torneio com possibilidade de disputas, um bom exemplo em quem se espelhar.
Acontece que a identificação dos jovens convocados com Neymar, 24 anos, é naturalmente diferente do que com o goleiro do Palmeiras, de 38. Uma boa pista foi dada pelo volante Thiago Maia em sua descontraída entrevista, no início desta semana.
??? Ainda sou meio tímido com o Neymar, fico tremendo quando ele chega perto. A ficha de estar ao lado dele ainda não caiu. Ele é um moleque humilde, inteligente, educado, brincalhão. Eu me inspiro nele, ele vai ser o melhor do mundo ??? derreteu-se o volante minutos depois de citar Prass, ao ser questionado sobre a convivência com os convocados do Palmeiras, rival do seu Santos.
??? Sempre brinco muito com o Gabriel Jesus e brinco um pouco com o Prass, que não tenho muita intimidade. Eu tinha uma impressão muito diferente dele, mas ele é muito humilde, experiente e vai nos ajudar bastante.
No dia seguinte, Neymar foi o entrevistado e seu comportamento foi questionado com firmeza, a ponto de o atacante considerar "maldosa" a pergunta. Sua resposta, também firme, agradou à comissão técnica, assim como os momentos em que ele tentou livrar os parceiros da pressão.
??? Se houver qualquer cobrança ou peso eu assumo a responsabilidade. Quero meus amigos felizes e tranquilos para jogar futebol. Estou há um bom tempo na Seleção e quero tirar essa responsabilidade das costas deles ??? assegurou.
Ao longo da preparação, o atacante estimulou uma relação de companheirismo com os demais convocados, e não de fãs para ídolo.
Fonte: Globo Esporte