O fôlego guardado para o sprint final não foi suficiente. Ali, naqueles metros finais, Poliana Okimoto foi engolida pelas rivais que vinham lutando com ela pela medalha de bronze durante todo o percurso dos 10km. A brasileira via seu sonho escapar depois de quase duas horas de briga intensa no mar de Copacabana. ?? sua frente, bem mais felizes do que ela, estavam a francesa Aurelie Muller e a italiana Rachelle Bruni. A brasileira teria de se contentar com o quase.
Ainda se refazia do esforço e do resultado dele quando viu no placar seu nome ganhar a terceira posição. A análise da arbitragem tirava Muller do pódio por ter segurado Bruni na hora da batida no pórtico de chegada. A prata e o bronze tinham novas donas. A Federação Francesa entrou com recurso, mas ele foi negado.
O ouro continuava com a holandesa Sharon van Rouwendaal (1h56m32s), atual vice-campeã do mundo na distância e que também disputou os 400m livre na piscina nos Jogos do Rio. Ana Marcela Cunha, uma das favoritas, terminou em 10º lugar.
- Não estou nem acreditando. Treinamos tanto, esperamos tanto... Aí na hora não acreditamos, demoramos para a ficha cair. Eu merecia essa medalha, eu construí ela. Quero só agradecer a todos que me deram apoio, sem eles não seria possível. Em Londres foi uma experiência difícil, e agora tentei deixar isso de lado, porque tinha a chance de a água estar fria...Treinei em água fria, me preparei para todo tipo de mar. Mas Deus é brasileiro, deixou o mar tranquilo, com uma água boa. Fiz a melhor prova da minha vida. No fim eu estava morta, mas dei um gás no sprint. Eu não sabia sobre a medalha, e enquanto não saiu o resultado oficial... aí que descarrega, que vem o choro - disse.
Há quatro anos, Poliana amargava um dos momentos mais difíceis da carreira. As águas do lago Serpentine, no Hyde Park, pareciam tranquilas. A temperatura nem estava tão baixa assim, mas o corpo gritou. Quando entrou na quinta volta das seis previstas, levantou o braço. Era o sinal de desistência. Deixou o local de cadeira de rodas, com um quadro de hipotermia. Nesta segunda-feira, depois de um ciclo discreto, ela viu a praia calma, parecendo uma piscina, do jeito que lhe é favorável.
Chegou cedo para se preparar. Poucos metros separavam a caminhada do hotel até a praia, feita próxima a Ana Marcela. Ela série, a companheira mais descontraída. Copacabana ainda estava preguiçosa às 7h15. Mas as duas estavam em alerta há muito tempo. No ensaio da cerimônia de premiação, o nome que era anunciado não era o dela, mas o da companheira de seleção e clube. As duas davam de ombros e tentavam manter o foco pela inédita medalha da modalidade.
Cada uma querendo escrever uma página mais bonita na trajetória olímpica. As duas estiveram juntas em Pequim 2008. Na ocasião, Ana ficou em quinto e Poliana em sétimo. Ao longo dos anos ajudando a transformar o Brasil numa potência das águas abertas. Em 2009, Poliana fez o que parecia improvável duas vezes. Foi a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha num Mundial de Esportes Aquáticos, com o bronze em Roma nos 5km, e o título da Copa Mundo da maratona aquática vencendo nove das 12 etapas. Em 2013, voltou a brilhar ganhando um ouro nos 10km e uma prata nos 5km no Mundial de Barcelona.
Fonte: G1